Inferno vermelho

Acho que nem nos piores pesadelos de Jean Todt e Ross Brawn a Ferrari se dava tão mal quanto aconteceu no Grande Prêmio da Austrália, realizado em 02/04/2006, e que eu só estou abordando agora em parte por falta de tempo e em parte por preguiça, mesmo.

O fato é que a Ferrari viveu seu inferno em Melbourne e assistiu à disparada de Alonso no campeonato, repetindo até aqui o que ocorreu em 2005.

Desde os treinos a Renault se mostrou forte, e só não ficou com a pole position e o segundo lugar porque um surpreendente Jenson Button fez a volta mais rápida com seu Honda. Curiosamente, Alonso não parece ter se dado tão bem com o novo formato de classificação (largou em sétimo no Bahrein, em quarto na Malásia e agora em terceiro), ao contrário de Fisichella, que tem sido mais consistente no qualifying - isto deve estar por trás da recente declaração de Alonso de que a última parte do treino "é chata" e que prefere o sistema de voltas lançadas.

A McLaren continua na cola da Renault e botou seus dois pilotos em quarto e quinto lugares no grid. Normal.

Já a Ferrari decepcionou de novo. Schumacher não passou de um modestíssimo 10º lugar no qualifying, enquanto Massa errou, bateu e largou apenas em 15º. Ou seja, o final de semana já começava mal.

No dia da corrida, a sorte de Alonso começou a se desenhar antes da largada: Fisichella deixou o motor apagar e teve de largar dos boxes. Outro que se enrolou foi Montoya, que rodou na volta de apresentação mas foi beneficiado pelo problema de Fisichella e pôde voltar ao quinto lugar no grid. Sem ninguém entre ele e Jenson Button na pole, Alonso tratou de pressionar o inglês, que segurou a primeira posição a duras penas.

Enquanto isso, uma série de acidentes forçou a entrada do safety-car: em um deles, Massa foi ensanduichado entre dois carros e acabou no muro. Fim de prova para uma Ferrari.

Na relargada, Alonso passou Button em uma manobra perfeita e a partir daí não deu chance pra mais ninguém. Button mostrou que o carro da Honda ainda tem de comer muito feijão com arroz pra ser competitivo em corrida, e foi perdendo posições - estava apenas em quinto quando seu motor estourou na última volta e Fisichella (que havia largado em último) conseguiu passar, uma vez que a Honda ordenou a Button que parasse antes da linha de chegada, para evitar a penalidade de troca de motor em Ímola.

Numa prova cheia de acidentes e abandonos, o safety-car precisou entrar quatro vezes na pista, mas nada que complicasse demais a vida de Alonso.

Raikkonen chegou em segundo e continua na briga, mas na corrida sua McLaren não conseguiu ser superior à Renault de Alonso. Curiosamente, embora o finlandês tenha brigado ferozmente com Montoya por posições depois da largada, a política da McLaren sobre quem tem prioridade ficou clara quando todo mundo parou nos boxes depois da terceira entrada do safety-car: Montoya teve de ficar atrás de Raikkonen enquanto este trocava o bico do carro - e o colombiano ficou visivelmente irritado com isso.

E Schumacher? Bom, o alemão vinha em sexto lugar e estava brigando com o carro para reduzir a diferença para Button. No afã de se aproximar do inglês, e com o carro claramente no limite, Schumi tocou na zebra, na grama, perdeu o controle e bateu no muro. Fim de prova para a outra Ferrari.

No final das contas, quem se deu bem foi Ralf Schumacher, que conseguiu um ótimo terceiro lugar para sua Toyota - que vem mostrando alguns sinais de recuperação depois de um péssimo início de temporada. As duas BMWs também pontuaram, com Heidfeld em 4º e Villeneuve em 6º.

Barrichello continua brigando com o carro da Honda. Fez uma corrida totalmente apagada - chegou a ficar várias voltas atrás da Super Aguri de Takuma Sato (!) - e no final, beneficiado por tantos abandonos, ainda beliscou 2 pontinhos com um sétimo lugar.

Quem teria motivos pra ficar contente era o estreante Scott Speed, que chegou em oitavo e agarrou seu primeiro pontinho. Mas a alegria durou pouco: a direção da prova alegou que Speed passou Coulthard sob bandeira amarela e deu o ponto e o oitavo lugar para o escocês. Speed, revoltado, xingou meio mundo e levou uma multinha da FIA.

O fato é que Alonso consegue sua segunda vitória em três provas, abre uma vantagem de 14 pontos para os segundos colocados (Raikkonen e Fisichella) e não parece ter adversários, considerando que a McLaren se aproxima mas ainda não chegou lá, e a Ferrari só tem sido decepção.

Agora é Ímola.


Pódio do GP da Austrália: Alonso dispara na liderança, Raikkonen segue na briga e Ralf comemora o suado terceiro lugar.